Artistas de circo recebem ajuda dos artistas da palavra
Os artistas de um circo armado no Conjunto José Américo, em João Pessoa, estão sem bilheteria há mais de um ano, e não tiveram nada para comemorar no dia 27 de março, Dia Nacional do Circo. A pandemia de covid-19 mudou completamente o cotidiano de quase 10 mil brasileiros que se sustentavam dos rendimentos obtidos a partir de suas apresentações debaixo da lona.
Os artistas de circo tiveram que se reinventar, abandonando suas atividades como palhaços, malabaristas, acrobatas, contorcionistas, equilibristas, ilusionistas e outros. Alguns vendem nas ruas, outros chegam a pedir alimentos para sobreviver. Para ajudar esses trabalhadores do palco, poetas de cordel estão doando cestas básicas, como é o caso de Raniery Abrantes. “Eles sentem a falta do calor humano das plateias, dos aplausos, e nós agora é que temos que auxiliar esses brasileiros com o calor da solidariedade”, afirmou Raniery.
O setor cultural foi um dos primeiros a sentir o impacto da pandemia. Cinemas, teatros, casas de shows, circos e outros espaços voltados para a arte ficaram impossibilitados de reunirem público. Um auxílio emergencial para garantir uma renda mínima para uma parcela da população brasileira foi aprovado no Congresso Nacional em março do ano passado. Ele foi pago pelo governo federal em nove parcelas entre abril e dezembro de 2020: nos primeiros cinco meses, o valor era de R$ 600 e, nos outros quatro, caiu para R$ 300.
Os repasses foram feitos a maiores de 18 anos sem emprego formal e com renda inferior a maio salário mínimo, que não estivessem recebendo benefício previdenciário ou assistencial e que tenha tido, no ano anterior, rendimento tributáveis abaixo de R$ 28,5 mil. Muitos artistas circenses se enquadravam nessas condições. Na semana passada, o governo federal instituiu por medida provisória um novo auxílio de quatro parcelas, com valores mais baixos, entre R$ 150 e R$ 375, e com pré-requisitos novos que reduziram o número de beneficiários.
Uma ação emergencial específica para o setor cultural também saiu do papel em junho do ano passado. Trata-se da Lei 14.070/2020, que ficou conhecida como Lei Aldir Blanc em homenagem ao compositor que faleceu devido a complicações da covid-19 logo no início da pandemia. Articulada no Congresso Nacional, ela foi aprovada com apoio de parlamentares da base do governo e da oposição.
Através dela, a União ficou responsável por repassar aos estados e municípios R$ 3 bilhões, que poderiam ser empregados de diferentes formas: renda emergencial aos artistas, subsídios para manutenção de espaços, empresas e instituições culturais, editais para realização de eventos ou para produção cultural, entre outros.
Artistas de circo tiveram acesso a recursos públicos do auxílio emergencial e também da Lei Aldir Blanc. Segundo eles, os repasses são bem inferiores aos rendimentos que o circo daria se estivesse funcionando, mas dão um desafogo. Porém, manifesta preocupação com a situação a longo prazo, sobretudo, pelas exigências do Poder Público.
“A subvenção nos coloca numa situação complexa, pois temos que oferecer uma contrapartida e temos que prestar contas. Então, os mesmos governos que te exigem a contrapartida são também os que não dão autorização para o funcionamento. Imagine um circo pobre onde está faltando comida. A família quer usar o dinheiro pra se alimentar. Mas não pode, tem que usar esse dinheiro pra comprar uma lona nova para o circo. Isso ajuda em que? Não adianta ter dinheiro na conta e não ter comida na mesa. É emergencial. Se a situação se prolongar e não for possível reabrir o circo, em algum momento, o circense vai precisar desse dinheiro para sobreviver”, avalia um artista circense.